terça-feira, 28 de julho de 2009

findo

me apresento assim: nua.

pra você nada é mais importante do que ver o que existe. do que ver o real. a realidade te dá mais satisfação do que o imaginário. e a realidade, com todos os seus defeitos, me dá mais vontade.

- tive algumas com nariz grande, meio torto.

- torto só o nariz? conheço outras coisas tortas, não tão comuns.

- tipo?

- ah, sei lá... acho que a pior de todas as coisas tortas é a personalidade.

- explica.

- explico. é gente dentro de gente, e gente com orgulho dessa gente dentro dela. é gente que não quer amadurecer. é gente que gosta de falar sem sentido.

- ah. mas você não faz isso?

- claro que faço. ou claro que fiz.

- sei.

- última vez foi semana passada, acho.

- uhum.

- é. mas, sabe? sei que foi desnecessário.

- sabe?

- sei. mas quero tanto rever o que é meu. o que tem sentimento junto. o que não é só, sei lá... um baralho...

- baralho?

- é. sabe? conheço gente que acha isso importante. e respeito... mas baralho, pra mim, é papel impresso. se tiver alguma história, aí já é outra coisa.

- ah tá. que nem aquele papel e foto que você guarda? a caixa vermelha? as flores secas?

- deveria era ter guardado mais. tantas lembranças na cabeça... mas gosto dessas coisinhas materiais. o papel e a foto, por exemplo. pensei em rasgar, tacar fogo, jogar fora... não consegui. foi tão importante pra mim. a caixa... o que tinha dentro, tanto faz... mas a caixa guardava toda a esperança que ela teve, sabe? e as flores. poxa... que gesto amável dar flores.

- é... flor é um treco maluco.

- eu bem disse isso já. uma pessoa, amiga... conhecida, na real... me disse que meu apelido é lírio.

- ah é?

- é. tem um significado aí. depois que eu soube... dei uma vez pra alguém. nem foi um lírio-flor. um lírio real, eu digo. foi um origami. mas esse, pode ser que exista para sempre.

- é... se elas guardaram o que você deu pra elas. assim como guardou o que elas deram pra você.

- o que elas me deram, só eu sei. o que eu comentei com você é muito pouco.

- e não busca mais nenhuma de novo?

- não. gosto das memórias boas que tenho delas.
- são únicas e muito minhas. tão minhas que posso jogar tudo fora. elas ainda vão ser minhas.

Um comentário:

Kopf Pistazien disse...

Colecinar lembranças é uma prática prazerosa que dói e vicia.
E não há abstinência mais cruel do que se permitir esquecer.

Gostei de tua narrativa: subjetiva, intimista e envolvente.
Beijos.